Cheguei a Riga vindo de Vilnius (Capital da Lituânia). Peguei um ônibus da viação Lux Express, em parceria com a Simple Express. O ticket do ônibus foi comprado online pela Cristina, minha namorada, alguns dias antes da viagem e paguei somente 6 euros por ele. É uma viagem relativamente curta em se tratando de uma viagem internacional de ônibus, aproximadamente 4 horas de viagem. Foi um ônibus muito bom e confortável, com wi-fi à bordo e muito quentinho (O que é fundamental quando do lado de fora está -10ºC). Confesso que sempre fico assustado com estas viagens de ônibus no inverno rigoroso, pois as ruas e estradas ficam escorregadias devido à neve. Mesmo com estas condições, a viagem foi boa.
Foto rodoviária à noite e com neve
Chegamos a Riga as 2:15 da manhã e não havia 1 alma na rua próxima a rodoviária. Por precaução, eu havia gravado o caminho para o Hostel pelo Google Maps (A melhor coisa que fiz). As ruas estavam praticamente impossíveis de andar. Muita gente acha a neve linda quando cai branquinha, e concordo. O que não sabem é que quando ela derrete é um perigo e feia, com aparência de lama e muito escorregadia. A rodoviária era perto do hostel e poderíamos ir caminhando, o que fizemos. Acontece que em dias normais leva 10 minutos a pé, e neste dia, devido ao derretimento da neve, levamos quase 40 minutos para chegar ao Hostel Friendly Fun Franks Backpackers.
O Hostel possui uma fachada muito bonita e é bem fácil de ser localizado. Tocamos o interfone quase as 3:30 da manhã e nada de alguém atender. Do nada, apareceu uma varredora de rua gritando comigo e em letão. Óbvio que não estava entendendo nada, até que com os gestos dela percebi que a entrada era pelos fundos, na verdade uma ruazinha parecida com um beco. Muito estranho.
Foto da fachada do hostel na manhã do dia seguinte tirada pelo celular, por isso a qualidade tá ruim
Eu havia reservado o quarto também para o dia anterior. Afinal, se fosse somente para o dia da chegada, teríamos que esperar até o meio dia para poder fazer o check-in sendo que chegaríamos as 2:30 da manhã. Com certeza eu não iria agüentar de cansaço. Fomos para o quarto e para nossa surpresa éramos só nos dois num quarto com 6 camas. Finalmente poderíamos dormir sem ninguém roncando próximo hahaha
Foto do quarto do Hostel
No dia seguinte acordamos numa hora razoável e fomos tomar um café da manhã do hostel. Poderíamos comprar mais comida e acrescentar a do hostel, mas estávamos com fome e comemos o que eles ofereciam. Café, chá, leite, pão de forma, manteiga, geleia e waffles.
Como eu acordei mais cedo, eu ouvi a atendente do bar (Sim, há um bar muito bonito e descolado dentro do hostel) dizendo que haveria um Walking Tour pela parte histórica. Obviamente cadastrei a Cristina e eu para este tour. A nossa guia era uma mulher muito alta que se chamava Zuzanka (Sim, feio pra caramba o nome). Lá todo mundo é muito alto, e como tenho 1,76m, me sentia um tampinha.
Ela tinha um inglês muito bom e nos levou primeiro para a Rātslaukums. É uma praça no centro histórico de Riga com várias construções de diferentes tipos de arquitetura. De acordo com a Zuzanka, o motivo de arquiteturas tão diferentes foram as guerras. Haviam prédios alemães, suecos e russos devido à Letônia sempre ter sido um país muito fechado economicamente e sempre ter recebido influências somente de guerra. (Tão economicamente fechado que o primeiro McDonald’s só foi aberto no país em 1998).
Prédio com estilo alemão em Riga
Na parte baixa da praça, existe uma estátua gigante de Stalin, que de acordo com eles, foi o salvador da pátria diante dos alemães. Na parte de cima da praça, localizam-se o Conselho Municipal de Riga, A Universidade Técnica de Riga, o Maior centro de informação ao turista do país, o Museu da Ocupação da Letônia (Que infelizmente estava fechado para reformas), além de várias gift shops e cafés.
Mais uma foto em Rātslaukums
Continuando a falar um pouco mais desta praça, no meio da parte de cima há uma estátua de St. Roland vestindo uma armadura medieval francesa. Este Santo tem sido o padroeiro de Riga desde 1897, quando a estátua foi construída.
Estátua de St. Roland
Durante a Segunda Guerra Mundial, a praça foi muito bombardeada e eles tentaram reconstruir quase tudo a sua aparência original. Zuzanka disse que o Latvijas okupācijas muzejs (Museu da ocupação da Letônia) mudou de nome no momento em que a Guerra Fria terminou, pois antes era chamado de “Muzejs Red latviešu strēlnieku” (Museu dos Fuzileiros Vermelhos da Letônia). Obviamente a arquitetura não faz parte do conjunto histórico e foi construído para comemorar o 100º aniversário de Lênin.
Museu da ocupação da Letônia
Seguindo com o Tour, entramos numa loja de roupas bem típicas da Letônia. Me senti dentro de um filme de tão diferente que era pra mim. As vestimentas completas não eram tão caras (Em torno de 100 reais) e a Zuzanka nos disse que são usadas em ocasiões especiais, como casamentos, reuniões de família, etc.
Loja de roupas típicas
Em seguida fomos para um restaurante muito interessante chamado Rozengrals. É um restaurante medieval onde até os funcionários se vestem como tal. Os preços eram um pouco altos, mas acho que valia a pena pela experiência, tanto que combinei com a Cristina de voltarmos lá mais tarde.
Foto do lado de fora do Rozengrals
Vídeo que achei no Youtube sobre o restaurante
Seguindo o roteiro do Walking tour, fomos a outra praça famosa conhecida como Doma Laukums. Zuzunka nos disse que é a maior praça do centro antigo e é considerado o centro do mesmo local, fazendo com que seja responsável por vários eventos, desde festas a comerciais de TV. Esta praça é um lugar muito bonito com vários restaurantes e várias construções históricas. Nesta praça pude observar a diferença entre dois monumentos religiosos. O primeiro é conhecido como a Catedral da Praça, uma construção simples, e a outra é uma construção eclética, conhecida como Catedral Noteworthy. Bem a frente há um prédio financeiro onde se localiza o Ministério das Finanças da Letônia. Um fato curioso é que uma parede deste prédio mantém intacta as marcas de balas que foram atingidas durante a II Guerra Mundial. A guia disse que os nazistas não o destruíram pois quem construiu este edifício foi um alemão, já o restante da praça foi todo destruído por bombas. A reconstrução se deu a partir de 1951 pelo Governo Soviético e só terminou em 1987.
Doma laukums
Ficamos nesta praça por uns 15 minutos e fomos a uma estátua que para eles é bem controversa. Trata-se da Brīvības Piemineklis (Monumento da Liberdade). O conceito desde monumento foi para comemorar a "Guerra de Independência da Letônia" e se deu início em 1920 pelo primeiro-ministro da época (Que é claro não gravei o nome dele). Foi feito um concurso entre os letões civis para que criassem o design do monumento e então foi escolhido.
Até ai tudo normal, o que aconteceu foi após a anexamento da Letônia pela União Soviética após o fim da II Guerra Mundial, pois o governo soviético decidiu demolir o monumento. Este fato gerou à época, uma revolta na população. No fim das contas, um rapaz letão conhecido como Vera (Esse nome eu lembro pq foi o nome de uma professora minha) foi o responsável pela não demolição e argumentou com os governantes soviéticos que a demolição iria ferir os sentimentos mais sagrados do povo letão. Em 1984 o monumento começou a ser reformado e foi finalizado 3 anos depois. Atualmente tem 42 metros de altura e é realmente muito bonito. A Zuzanka nos disse que os novos casais de namorados vão para lá como forma de serem "abençoados" e em seguida seguem para o parque ao lado chamado Bastejkalns para poderem namorar. Ela mesma nos disse que já fez isso no passado rs.
Brīvības Piemineklis, o Monumento da Liberdade
Praça Bastejkalns
Para encerrar o Walking Tour, fomos a um bar chamado Funny Fox para podermos tomar uma bebida típica da Letônia chamada upeņu. Nada mais é do que uma mistura de biotônico Fontoura com Jagermeister, porém extremamente forte. A Zuzanka nos disse que os letões geralmente tomam isso antes de sair de casa no inverno ou antes de irem embora para as suas casas após a balada pois como é muito forte, serve para aquecer o corpo no inverno rigoroso. Achei curioso que vi vendendo shot de cachaça por Ls 1,25 (R$ 5). A vendedora falava "Catxussa", mas é claro que eu a ensinei a falar cachaça corretamente rs.
bebida letã Upeņu Balzams
Com o fim do Walking Tour, decidimos procurar algo para comer. Missão praticamente impossível. Tudo bem que os menus são em 4 línguas (Letão, inglês, francês e russo), mas na grande maioria é só o nome do prato, mas não dizem o que vem nele. Não lembro o que comi neste momento ou se comi algo, só me lembro que após isso voltamos para o Hostel para tomar banho e descansar um pouco antes de irmos para a rua novamente.
Infelizmente a Cris estava muito cansada e não quis sair a noite, mas antes passamos no mercado para comprar lanches e outras coisas pro café da manhã no dia seguinte. Ela aproveitou para fazer coisas de mulher, como lavar o cabelo, ajeitar a unha etc. Por outro lado eu estava empolgado e não queria ficar no quarto. Resolvi ir para o bar dentro do Hostel. Neste momento, chegou um espanhol chamado Joaquin que morava na Polônia. Eu o chamei para irmos para o bar do hostel e ele topou. O Joaquin também não estava muito empolgado em sair a noite porque estava muito frio (-18ºC) e ele estava cansado da viagem, pois veio de Varsóvia na Polônia para Riga de ônibus.
No bar, ficamos conversando com a Inga, a bartender do local. Pela hora, estávamos no Happy Hour e a cerveja estava custando Ls 0,50 (R$2,30), e o preço normal dela fora do Happy Hour é Ls 2,50 (R$ 11). O ambiente estava bem legal pois só estávamos os 3 no local conversando. Ela nos deu dicas do que fazer e não fazer no dia seguinte. Umas extremamente caras, outras nem tanto.
Foto do bar feita com o celular, por isso está ruim
Cerveja letã Zelta
No dia seguinte, eu e a Cris fomos andar por uma parte não histórica e menos turística. É o que eu sempre falo: Sempre vale a pena fazer o trajeto turístico e o não turístico, afinal é a melhor maneira de saber como realmente vive a população local. Andamos sem rumo nos guiando somente pelo mapa da cidade e chegamos a lugares lindos. Locais como a Kristus Piedzimšanas pareizticīgo katedrāle (Catedral da Natividade de Cristo) localizada na Brīvības bulvāris (Obrigado mapa por me fazer lembrar do nome). É uma catedral que eu não tenho a menor ideia do que significa, mas é muito bonita externamente.
Catedral da Natividade de Cristo
Saímos de lá e fomos andando até chegarmos numa ponte com um rio parcialmente congelado. Aquela era uma área muito bonita, que tenho certeza que no calor fica tudo verde. No caminho também vimos construções em estilo antigo porém todas reformadas e muito bonitas. Não tinha a menor ideia do que eram, mas valeu a pena tirar umas fotos rs
Pra falar difícil: Canal Pilsētas kanāls na rua Krišjāņa Valdemāra iela
Após tirarmos umas fotos no local e no Jēkaba laukums (um pequeno parque), voltamos para o centro histórico, mas não para uma parte turística. Achei bem interessante porque as casas eram muito bem acabadas e vimos várias pequenas feiras de artesanato de produtos locais. Não compramos nada porque os vendedores não falavam nada em inglês e nem na mímica resolveu, mas valeu a pena.
Trecho histórico de Riga porém não turístico
Após essa andança durante todo o dia, resolvemos voltar ao Hostel para descansarmos um pouco. Depois de uma cochilada básica, lanchinho básico no hostel e um banho básico tomado, decidimos dar uma volta e trocar um pouco mais de Euros para Litas (Moeda local). Feito isso demos uma volta na cidade, vimos o movimento e decidimos voltar no Rozengrals pois o achamos o máximo.
Entrando no estabelecimento, percebemos que não existe energia elétrica (Somente nos banheiros), tudo é iluminado a vela. Como disse antes, o estilo do local é totalmente medieval, desde a comida, o ambiente e a vestimenta dos funcionários.
A comida dos países bálticos é muito gordurosa e a Cris estava com o estômago ruim, então só eu decidi comer. Pedi uma porção de berinjela frita com grão de bico e para beber uma cerveja típica, tudo no melhor estilo medieval. A Cris decidiu por uma tequila (?). Infelizmente é proibido tirar fotos neste restaurante e consegui só uma foto escondida. Vou tentar descrever a comida: A minha berinjela veio num balde e com uma cobertura de queijo derretido, a cerveja veio num copo de barro e pra acompanhar veio um pão caseiro enrolado num pedaço de pano (Tipo estopa). Parecia que estava filmando o Game of Thrones rs. Foi muito louco. Quando a tequila chegou, a Cris percebeu que se confundiu nos pedidos e não quis tomar, ai eu tomei. O curioso é que eles não bebem como a gente no Brasil com limão e sal. Lá é tomado com limão e canela. A canela é jogada em cima do limão, e após beber a tequila, se morde o limão. Garanto que gostei e achei até mais gostoso do que do jeito que estamos acostumados. Neste link a seguir há algumas fotos do restaurante no próprio site dele: https://www.rozengrals.lv/e_pic_xmas.htm
Foto escondida no restaurante Rozengrals
Já era tarde e estava muito cheio. Como iríamos para a Estônia cedo no dia seguinte, decidimos ir embora para poder dormir. Mas posso garantir que a experiência em Riga foi ótima e que quero voltar agora no verão.
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